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Periferia

    A cultura periférica (desde sempre) resiste

    Após a eleição do então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), em outubro de 2018, censuras que já existiam no país, têm se intensificado ao longo do ano. Em 600 dias de governo, o crescimento de um pensamento conservador no país tem trazido suas consequências visíveis em vários âmbitos culturais no Brasil. Alguns são ainda mais notáveis. A repressão nos eventos de hip hop ao longo de vários estados brasileiros tem aumentado consideravelmente.

    O movimento sempre foi um símbolo de contracultura e resistência em todo o mundo, e aqui no Brasil não é diferente… No dia 25 de novembro de 1989, o MC Rap B do grupo Rap Magic, foi assassinado com um tiro na testa por um policial enquanto cantava dentro de um metrô de São Paulo. O rap e o movimento hip hop ainda estavam se popularizando por aqui, mas já sofria com a violência e reação muitas vezes fatal da polícia.

    O hip hop é só mais um exemplo da repressão sobre manifestações da cultura periférica no país. A prática da capoeira era suscetível a prisão segundo o Decreto 487 do Código Penal Brasileiro, de 11 de Outubro de 1890, e só passou a ser legalizada em 1935. O samba também foi um ritmo proibido no país desde a década de 1920 e assim foi até a presidência de Getúlio Vargas, quando elementos do nacionalismo começaram a ser valorizados no país.

    Mais de cem anos após esse decreto uma proposta de lei de criminalização do ritmo funk tem circulado pelo Congresso Nacional. Diz a proposta:

    “É fato e de conhecimento dos brasileiros, difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de mídia e internet com conteúdos podre (sic) alertando a população o poder público do crime contra a criança, o menor adolescente e a família. Crime de saúde pública desta ‘falsa cultura’ denominada funk”.

    De todas essas censuras no Brasil, nota-se um fato em comum: todas as manifestações que sofreram repressões são ligadas a grupos negros, pobres e moradores de bairros periféricos. A história se repete de forma desvelada. Ainda em 2017, João Dória (PSDB), então prefeito de São Paulo, resolveu apagar importantes obras de arte dos muros da cidade, como o tradicional mural da Avenida de 23 de Maio.

    Em janeiro de 2019, na Paraíba, o evento “Batalha do Valentina” sofreu duras repressões partindo do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), que utilizaram armas de choque e um objeto pontiagudo para furar as pessoas além de atear fogo em diversos objetos de estrutura do evento, segundo relatos dos locais.

    São inúmeros e crescentes os casos relatados de diversos episódios de repressão policial sobre eventos da cultura periférica no país. As diversas manifestações da cultura hip hop não são apenas um entretenimento para a população local, mas também uma ferramenta artística, profissional, de organização social, união e conscientização, principalmente entre os jovens, além, é claro, de ser uma expressão cultural. Cem anos após diversas manifestações – hoje consideradas patrimônios culturais do país – serem proibidas em nosso território, a cultura periférica ainda resiste.

    Créditos

    • Texto: Beatriz Fanton;
    • Editoria: Angela Maria Grossi;
    • Design: Ana Beatriz R. Ribeiro e Erick de Alencar.