Por Ingrid Milena de Melo (UNESP)
O meu nome é Ingrid, nasci em 17/11/1997, em São Paulo, Capital. Sou a mais nova dos seis filhos da minha mãe e a primeira a entrar em uma Universidade Pública. Ademais, tenho outra peculiaridade, deficiência visual (Baixa Visão) e um leve grau de hidrocefalia, esta segunda condição sempre era vista de maneira pessimista pelos médicos, que diziam com pesar, que eu viveria pouco e/ou não iria andar, falar e enxergar. No entanto, apenas me causou um atraso no desenvolvimento psicomotor, durante alguns anos e o meu TDA, mas nada além disso, uma vez que eu ando, falo (um segundo idioma, inclusive) e enxergo, apesar de pouco, é o suficiente e se não fosse nada, não seria problema.
Cresci achando que deveria enxergar, como todo mundo, que deveria haver uma cura e que não conseguiria ter uma “vida normal”, até que cheguei no melhor momento da minha vida, o de mudar meus questionamentos, ao invés de “por que eu tenho que ser assim?” para “por que eu não posso ser assim?” e eu obtive a resposta, que eu posso sim, ser quem sou e fazer o que eu quiser e onde quiser… Nesse momento, eu decidi estudar Letras na Unesp, pois eu gosto muito da língua espanhola e das professoras que me ensinaram com tanta dedicação. Além disso, eu queria ser mais como elas e menos como a maioria dos professores que tive, que me excluíram, tal como outras pessoas fazem conosco, PCDs.
Em 2015, entrei em um cursinho comunitário da UNESP, pois minha família não teria condições de pagar. Permaneci nele até o início de 2018, quando fui convidada a entrar na Unesp. Foi uma correria e novamente o medo do novo e da possível falta de acessibilidade, mas fui, fui com medo e incertezas “e se eu não conseguir as políticas de permanência?; não sei cozinhar, não sei lavar roupa; nunca fui no mercado ou banco sozinha”. Mas decidi tentar, se não desse certo, eu voltaria para casa.
Inicialmente, tudo era novo não só para minha vida, mas também para a vida de todos que me cercavam e agora outros: os professores, funcionários e alunos. Descobri sobre o capacitismo e continuei o meu combate diário contra ele, não sabia o que era, mas já o enfrentava como os meus antecessores, contemporâneos e sucessores PCDs. A luta continua para mostrar que não somos incapazes, indefesos, coitadinhos, especiais ou qualquer coisa que nos limite, classifique ou nos defina por nossa deficiência e acima de tudo, somos seres humanos, logo erramos, falhamos, mas queremos aprender e queremos respeito e não pena, caridade ou exclusão.
A autora
Ingrid Milena de Melo, 24 anos. Graduanda do curso de Licenciatura em Letras na Unesp, Campus de São José do Rio Preto. Atualmente, faz parte do Projeto VidAS, na Instituição em que estuda.