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Unespiana sim! Com muito orgulho!

    Por Claudia Regina Mosca Giroto (UNESP)

    Inicio este breve relato anunciando meu lugar de fala: de quem se orgulha, e muito, de ser unespiana! E justifico: não se trata apenas de vínculo profissional, mas de condição transformadora possibilitada por uma universidade pública socialmente referenciada que me acolheu e me impeliu, em razão de seu perfil mais inclusivo, a continuar ousando, cotidianamente, a acreditar na educação como caminho de transformação, frente  a um contexto social que naturaliza a desvalorização do papel da mulher na sociedade e, mais recentemente, potencializa tentativas de fragilização da universidade pública e de desvalorização da ciência. 

    Explico melhor: venho de uma família que comemora todos os feitos educacionais de seus integrantes, da pré-escola ao ensino superior. Todas as conquistas neste campo, de quem quer que seja e tenha a idade que tiver, são festejadas, pois a educação sempre foi muito valorizada pelos meus pais que, do modo que foi possível, por a compreenderem como caminho de transformação, oportunizaram aos filhos condições que eles próprios não puderam ter (viveram na/da roça em época que tinham que atravessar rio e andar quilômetros para acessar uma única escola rural com classes multisseriadas). Tenho pais que criaram duas filhas e três filhos ensinando que mulher tem voz e vez! Com simplicidade, mas muita sabedoria, meus pais nos incentivaram à emancipação e cidadania através da educação. 

    A escola sempre ocupou, então, centralidade em minha vida e, além de gostar muito de estudar, vivi intensamente, na educação básica e ensino médio, todas as oportunidades apresentadas e/ou conquistadas no contexto escolar (neste período participei de campeonatos regionais de voleibol, de equipe de atletismo, de time feminino de futebol, de grupo de teatro, de ações sociais e ambientais, de olimpíadas de matemática, de concursos de redação, de coral, integrei grêmio estudantil, grupo de dança, grupo de leitura, grupos de estudo, fiz trabalho voluntário na biblioteca da escola). Frente a tais condições estruturais e conjunturais me constitui aluna de ensino público e, ao longo deste processo, ousei me apropriar de direitos e enfrentar preconceitos e estereótipos, assim como pude fortalecer a consciência sobre o necessário papel transformador da educação pública de qualidade para todos.

    Sob tal compreensão, aos 16 anos, logo que concluí o ensino médio, ousei iniciar minha trajetória acadêmica na Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), Unesp de Marília, no curso de Ciências Sociais. Nesta graduação me interessei, particularmente, pelas disciplinas de sociologia da educação e de sociologia da comunicação, assim como, pelos temas da educação inclusiva e da medicalização da educação, influenciada por estudos sociológicos sobre fracasso escolar e implicações da transformação de determinantes sociais e/ou educacionais em sintomas de “doenças do não aprender” e do “não se comportar”. Razão pela qual optei por ingressar como aluna da primeira turma do curso de Fonoaudiologia da FFC, tendo em vista estudar os temas mencionados no contexto da intersetorialidade entre saúde e educação. Neste período de graduação, participei de eventos de iniciação científica, de jogos interunesp, fui bolsista de monitoria, monitora de estágio, representante discente em conselho de curso e integrei grupos de estudos).

    No mestrado e doutorado, na Linha de Pesquisa em Educação Especial, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da FFC, pude aprofundar a compreensão sobre inclusão, diversidade, diferença, deficiência, medicalização da educação, desigualdades sociais, vulnerabilidade social, educação especial, educação inclusiva e intersetorialidade entre saúde e educação. Embora exercesse a clínica fonoaudiológica em linguagem concomitantemente à docência em curso de Fonoaudiologia em instituição privada, optei, no percurso de minha formação no âmbito da pós-graduação, por assumir a docência na universidade pública, em regime de dedicação exclusiva e, vinculada ao Departamento de Educação Especial, atual Departamento de Educação e Desenvolvimento Humano, do curso de Pedagogia da FFC, passei a lecionar disciplinas referentes a temas em intersecção com a área de saúde e aos temas anteriormente mencionados, a exemplo das disciplinas de “Diversidade, diferença e deficiência” e de  “Fundamentos da Educação Inclusiva”. No PPGE passei a lecionar disciplinas que abordam a (des)medicalização da educação no contexto da educação inclusiva. Foram muitos desafios até então: fui professora substituta; pesquisadora visitante; professora por tempo determinado (no curso de Fonoaudiologia, em disciplinas e supervisão de estágios).  Neste percurso, participei de colegiados locais, comissões, conselhos, chefia de departamento, coordenação de curso.

    Ao longo dos últimos 36 anos, quer da condição de discente de graduação/pós-graduação, quer de docente e, mais recentemente, como diretora da Unesp de Marília, ao atuar com temas que ainda carregam consigo um histórico de desprestígio na sociedade, é no contexto e exemplo da Unesp, por me oportunizar vivenciar, democraticamente, as condições de aluna, docente e gestora e por se constituir em ambiente de resistência a ataques contra a ciência e direitos humanos, de resiliência e de fomento à edificação de uma sociedade mais inclusiva, que busco fortalecer o compromisso em incentivar o necessário debate desses temas na formação de formadores. A docência e a gestão me convocam, continuamente, num processo de desconstrução e reinvenção, a assumir meu ato responsável, qual seja, contribuir com a Unesp, no que estiver ao meu alcance, para que se torne cada vez mais inclusiva  e geradora de transformação de vidas, por meio da educação de qualidade, especialmente de meninas e mulheres que ousam se apropriar de seus direitos, num cenário social, colapsado e refratado em bolhas de informação, no qual ainda persiste o silenciamento da pluralidade de vozes, o apagamento das diferenças, a naturalização das desigualdades, de diferentes formas de violência, de preconceitos e de (in)verdades incontestáveis, bem como, ainda requer a necessidade, diária, de lutas e enfrentamentos para que tenham esses direitos assegurados.  

    No contexto desta importante iniciativa do projeto Educando para a Diversidade, reitero apoio incondicional às ações da Unesp que visam dar voz e vez às mulheres! 

    Um Salve! a todas as mulheres, com o desejo que tenham seus direitos assegurados todos os dias!

    A autora

    Graduada em Fonoaudiologia (Unesp, 1993), Mestre e Doutora em Educação (Unesp, 1998, 2006), Docente na Graduação e Pós-Graduação da Unesp de Marília. Atualmente exerce a direção da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC), da Unesp, Campus de Marília.