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Filosofia Africana

    Por Maria Stela Maioli Castilho Noll (UNESP)

    Há alguns dias atrás ganhei um livro do meu esposo que se chama “Filosofias Africanas: uma introdução” de Nei Lopes e Luiz Antônio Simas. Ainda estou no início, mas do pouco que li, o livro já me fez refletir muito sobre algumas coisas que gostaria de comentar. Preciso avisar que não sou nenhuma conhecedora e estudiosa sobre filosofia e não tenho nenhuma pretensão de fazer uma síntese do livro ou de apresentar uma tese sobre o tema. Gostaria de apenas trazer algumas reflexões que a leitura tem me inspirado e, quem sabe, inspirar outros a lerem o livro e a refletirem também. Assim como muitos, gosto de pensar sobre coisas abstratas, visões de mundo, sentidos da vida, etc. e tentar relacionar com questões da vida atual.

    Gostaria de ressaltar também que não conhecia nada sobre a filosofia africana e muito pouco sobre sua cultura ancestral. Mas bastou iniciar a leitura para vislumbrar um mundo de riqueza e diversidade e um modo de explicar o Universo e a existência humana como algo muito mais integrado, sem os sectarismos tão característicos da nossa civilização ocidental. E foi esse ponto que me despertou às reflexões.

    Em um dos capítulos, os autores explicam como o pensamento ancestral africano compreende o Universo, onde não existe “grande” ou “pequeno”, tudo é parte de um todo onde cada particularidade compõe esse todo que deve estar em equílíbrio. “As relações de grandeza não têm nenhum sentido porque não acrescentam nem diminuem nada”. Entendo que, com base nesta visão, as diferenças não são vistas como “coisas” hierarquizadas ou antagonizadas, apenas como diversidade de manifestações de um mesmo Universo, ou de uma mesma “Força Vital” como se considera no pensamento ancestral africano.

    Segundo a visão ancestral africana, o ser humano não está no mundo “contra” o outro ou contra aquilo que não lhe diz respeito ou se diferencia dele, mas para se perceber como parte da Natureza.

    Este trecho me fez pensar sobre como esta forma de ver o mundo está distante do que nossa civilização moderna vivencia nos dias de hoje. Como disse acima, não sou conhecedora da filosofia, mas já aprendi que toda nossa cultura ocidental está pautada na filosofia grega, que se estabeleceu pela Europa. O modelo de civilização que desenvolvemos foi baseado na dominação de povos nativos e suas culturas e a imposição de uma cultura e modo de pensar Eurocêntrico. E, pelo que vemos na atualidade, este modelo se fundamenta em uma visão de muita dualidade sobre o Universo e a Natureza, o que talvez seja uma das causas para que o diferente seja visto como contrário, e a Natureza como algo externo e apartado do humano. 

    Esta visão de mundo dual e antagônico também é o que está por trás do machismo, do racismo, da xenofobia, da lgbtfobia, do capacitismo, que refletem um ser humano que não gosta de ver o diferente; para muitos humanos, o diferente é insuportável e intolerável, onde mulheres, negros, homossexuais, entre outros, devem ser reduzido à insignificância, à submissão, à passividade.

    Talvez um caminho para nos corrigirmos, para podermos realmente nos autodeclarar como uma geração civilizada, seja ouvirmos o que estes ensinamentos ancestrais de povos com os africanos, mas também dos nativos americanos e tantos outros que foram subjugados. A visão destes povos parece sempre remeter à visão do todo e de como a manifestação desse todo se dá pela diversidade. 

    Convido-os a lerem este livro ou outros que sejam capazes de nos fazerem refletir e conhecer outras visões de mundo, que pautem uma nova civilização que valorize a diversidade e se entenda como parte dela.

    A autora

    Maria Stela Maioli Castilho Noll, formada em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo, é docente na UNESP Campus de São José do Rio Preto. Ministra disciplinas e realiza pesquisas na área de Ecologia e faz parte do grupo Mulheres na Política.