Por Maria Del Pilar Sotomayor (UNESP)
Irei começar meu relato com algumas perguntas, e desde meu ponto de vista privilegiado de mulher, mãe e profissional.
– Porque se a mulher é tão competente quanto o homem, elas têm que deixar isso muito mais evidente e demonstrar que dá conta?
– Em um mundo onde os homens são maioria em cargos de liderança e produtividade, porque as mulheres são questionadas do “porque você produz tanto, e que cuida de sua família”?
– Porque a pesar das mulheres terem dupla, ou tripla jornada isso não é considerado quando são estabelecidas métricas para avaliar a qualidade do trabalho e produtividade?
Com estas três perguntas passo a elaborar meu relato.
Às vezes você pensa que em pleno século 21, a equidade de género já deveria ter sido alcançada, entretanto no dia a dia ou, ao falar com universitárias, vivenciar algumas situações em todos os níveis laborais, percebo que o que vivi há mais de 30 anos durante a minha graduação, ainda continua acontecendo.
Como é possível que mesmo com quase a metade dos lares brasileiros sendo sustentados por mulheres, não seja comum ou rotineiro que elas sejam consideradas para ocupar cargos de liderança e tomadas de decisão, sendo muitas vezes relegadas a simples tarefas operacionais que não as desafiam e, que pelo contrário as desmotiva para superar suas próprias habilidades e competências.
Mas o que é comum observar em todos os âmbitos laborais, a prática do mansplaining onde se costuma “calar a boca” à mulher e nem sempre de forma sutil, deixando às mulheres sem ação para revidar esse tipo de postura não respeitosa.
Fica evidente, que ainda há muito por vencer e avançar, e penso que deve começar em casa, ao criar nossos filhos, filhas ou filhes, demonstrando que todos somos igualmente competentes e que tem que se respeitar as habilidades inerentes de cada pessoa. Pensando que esta conduta permita que nas próximas gerações as mulheres possam se empoderar e assim sejam consideradas para exercer funções que na atualidade ainda são restritas a elas, independente de serem mães, esposas, solteiras, etc.
Então, o que fazer agora? Pois bem fazer acontecer, participar de coletivos que motivem às mulheres a crescer dia-a-dia, procurar estabelecer mais Políticas Públicas que permitam garantir às mulheres se tornar mães, sem que isto seja uma “punição” à carreira e produtividade, e com isto, que seus anelos na profissão não se vejam atrasados, e ao mesmo tempo a se realizarem completamente.
Embora, alguns avanços em relação a este assunto já estão vigentes, ainda sua execução e impacto é pouco evidente, e precisam ser consolidados para de fato reconhecer à mulher como ela merece no âmbito pessoal e profissional.
Inspirações existem muitas, mulheres como Marie Curie nas ciências exatas, Isabel Allende na literatura, Frida Kalho nas artes, Evita Perón na política, entre muitas outras que definem muito bem o que é uma mulher em toda a extensão da palavra.
Deixo aqui minha reflexão, que com certeza não é somente minha, e que ainda não tem respostas às perguntas com as quais iniciei este relato.
A autora
Professora Associada MS 5.1 do Departamento de Química Analítica, Físico-Química e Inorgânica do Instituto de Química de Araraquara (IQ/CAr). Bacharel em Química e Doutor “Honoris Causa” pela Universidade Nacional de Engenharia (UNI, Lima-Peru), Doutora em Ciências e Pós-doutoranda em Química pela UNICAMP. Foi Coordenadora do Curso de Graduação em Química, Presidente da Comissão Permanente de Ensino, Chefe do Departamento de Química Analítica atualmente participa como Assessora do Vice-Reitor de Pesquisa da UNESP.
Na pesquisa atua nos seguintes temas sensores e biossensores ópticos e eletroquímicos, materiais biomiméticos de enzimas e anticorpos, e desenvolvimento de metodologias para analitos de interesse biológico, farmacêutico, alimentício e ambiental. Possui mais de 100 artigos publicados em periódicos indexados, coordenou 12 projetos de pesquisa e já orientou mais de 30 teses de Pós-Graduação, conta com H-index da SCOPUS 31, PUBLONS 29, Google 35 e Google i10 de 75.