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Linn da quebrada no BBB 22 e a transfobia para além das telas

    O mês da visibilidade trans e travesti (janeiro) acabou, mas o debate acerca desses grupos e sua marginalização na sociedade permanece. É que na casa mais vigiada no Brasil se encontra uma pessoa que hoje é uma grande representante dessa comunidade: Linn da Quebrada. Sua verdade não podia ser mais clara, seu pronome está tatuado na testa – literalmente. Levando sua luta para dentro dos lares brasileiros, Lina Pereira dos Santos se insere na história das pessoas trans e travestis no nosso país. História essa que é longa, sofrida e ainda considerada polêmica.

    Linn não é a primeira pessoa não cisgênero dentro do reality. Em 2011, Ariadna Arantes entrou na casa, mas seu percurso foi diferente. Ao contrário das falas orgulhosas de Linn, Ariadna se protegeu, escondendo, durante sua curta participação,  o fato de que é uma mulher trans. Primeira eliminada, a ex-bbb ficou apenas uma semana no programa.

    Onze anos depois, o cenário mudou em partes. A cantora participante da vigésima segunda edição do BBB vem sendo apoiada dentro e fora do programa. Em um de seus discursos, Tadeu Schmidt chegou a dar seu espaço de fala a sister, que comentou sobre sua tatuagem: “Ficou na dúvida? Lê, que aí vocês lembram que eu quero ser tratada nos pronomes femininos”.

    Linn da Quebrada tem o pronome "ELA" tatuado próximo à sobrancelha
    Tatuagem 'ELA' de Linn da Quebrada (Foto: Divulgação/Twitter/@linndaquebrada)

    O assunto veio à tona após outros moradores da casa terem errado, mais de uma vez, a forma de se referir a Linn da Quebrada. E esses equívocos que persistem em permanecer na boca de alguns participantes, acontecem para além das telas. Ainda há uma árdua jornada pela aceitação do nome social e seu devido uso. Enquanto isso, a quantidade de pessoas que lutam pelo seu direito de serem chamadas da forma certa aumenta. No último ano letivo houve um crescimento de 97% nas matrículas registradas com nome social no estado de São Paulo.

    Infelizmente, a violência contra esse grupo vai além da verbal. O Brasil completou, em 2021, 13 anos seguidos sendo o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo todo. Foram 140 casos de assassinato a esta população no ano passado, segundo dossiê de Bruna Benevides, mulher trans que divulgou sua pesquisa na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS).

    Ainda segundo o dossiê, no ano passado foi tirada a vida da vítima mais nova dos últimos cinco anos de pesquisa. Keron Ravach tinha apenas 13 anos quando foi morta a pauladas no Ceará. Os números  que a seguem não são muito diferentes e revelam que a maior parte dos casos se concentra em mulheres jovens. De 100 pessoas contabilizadas, 53% tinham de 18 a 29 anos. 

    Manifestação de orgulho trans na avenida paulista, um grupo segura uma grande bandeira trans
    Manifestação de orgulho trans na avenida paulista (Foto: Cris Faga )

    Os dados contrastam com a lei que garante ser crime ataques transfóbicos. A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara aprovou em 2019 o decreto que criminaliza a ofensa à dignidade e ao decoro em razão de homofobia e transfobia. Apesar da teoria, na prática não se é visto uma verdadeira justiça para aqueles que sofrem do preconceito diariamente.

    A visibilidade transexual continua crescendo. Para além do BBB, uma das séries mais famosas de 2022 traz uma atriz e personagem trans. Em Euphoria, que estreou esse ano sua segunda temporada e segue sendo altamente comentada,  Jules Vaughn é uma jovem do ensino médio que expressa sua feminilidade através de suas roupas, lutando por aceitação. A atriz que dá vida a menina é Hunter Schafer, que se destaca por ser uma mulher trans em um grande papel de uma série renovada.

    Nas telas brasileiras, a modelo Gabrielle Gambine se fez presente na segunda temporada de Verdades Secretas, da Globo. O pedido da participação veio graças ao seus trabalhos de grande notoriedade, em campanhas da Avon, Havaianas e Vogue (nesta última, participando de editoriais e outros trabalhos). “ É muito representativo ocuparmos todos estes lugares. Quando o grande público vê pessoas trans sendo amadas, respeitadas e construindo histórias fora da marginalidade, fortalecemos este imaginário, isso nos motiva a continuar em movimento”, reflete a atriz a respeito da importância de ser chamada para tais papéis e empregos.

    Hunter Schafer como Jules em Euphoria. Hunter é branca de cabelos loiros.
    Hunter Schafer é destaque em Euphoria (Foto: HBO)

    É por meio da cultura e da mídia que vai se espalhando tudo que é preciso saber sobre a transexualidade. Os eventos ocorridos na casa chamam a atenção do público, escancarando a verdade que ainda não é suficientemente falada: o Brasil é um país transfóbico. Linn da quebrada e sua participação no programa trazem à boca do povo o debate sobre respeito e descriminação. E esse debate deve continuar.

    É necessário usar os pronomes certos e o nome certo para se referir a qualquer pessoa, não invalidando sua verdadeira identidade. Transfobia é crime e deve ser repudiada e denunciada não só quando televisionada, mas também no dia a dia do Brasil que, por enquanto, ainda segue no pódio de países mais transfóbicos do mundo. 

    Quer saber mais sobre o que é gênero, pessoas trans e transfobia? Confira nosso outro artigo ‘Transgêneros’ sobre o assunto.

    Créditos

    Texto elaborado por Mariana Chagas, colaboradora do Educando para a Diversidade.

    Capa adaptada de Freepik por Mariana Fernandes, colaboradora do Educando para a Diversidade.