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Guia sobre Transtorno do Espectro Autista

    Alternativa em áudio 1 - Índice.

    Introdução

    Alternativa em áudio 2 - Introdução.

    Este guia se constitui como uma ação educativa referente ao Transtorno do Espectro do Autista (TEA) e das pessoas que se encontram nessa condição, com ênfase sobre questões relativas à sua participação no contexto universitário.

    Sua meta é disseminar e compartilhar informações práticas que promovam e subsidiem a participação efetiva de todos estudantes, incluindo aqueles que apresentam diferenças físicas, sensoriais e/ou comportamentais, num espaço acadêmico comum. Com isso, reitera-se o compromisso na propagação dos direitos fundamentais dos sujeitos que dão vida à universidade.

    Tempos atuais exigem mudanças para melhores condições de desenvolvimento e para a garantia da cidadania. Nesse sentido, a universidade deve se configurar como um espaço democrático em que a diferença seja entendida como constitutiva do humano. Reconhecê-la, respeitá-la e valorizá-la passa a ser um compromisso de todos!

    Caso queira fazer o download deste guia, acesse o link: (PDF) Guia de orientações sobre Transtorno do Espectro Autista em pdf.

    O que é o TEA?

    Alternativa em áudio 3 - O que é o TEA?

    O Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014), é caracterizado como um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta de forma persistente a comunicação e a interação social do indivíduo, associado a padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou de atividades.

    As características comuns do sujeito com TEA incluem rotinas rígidas, maior sensibilidade a estímulos sensoriais e dificuldade em regular e expressar emoções. Esses indicativos são passíveis de serem percebidos precocemente logo na primeira infância.

    Atualmente, o DSM-V estabelece como nomenclatura oficial Transtorno do Espectro Autista, abarcando desordens que anteriormente eram relacionadas ao autismo, como o Autismo Clássico e o Transtorno de Asperger. As manifestações do transtorno podem variar de acordo com a gravidade da condição autista e do nível de desenvolvimento, por isso o uso do termo espectro, uma vez que existem características comuns aos indivíduos, mas sua manifestação é heterogênea.

    Segundo o DSM-V, o espectro possui três níveis: leve, moderado e severo.

    Quais são suas causas? Quantas pessoas têm TEA?

    Alternativa em áudio 4 - Quais são suas causas? Quantas pessoas têm TEA?

    A etiologia (causas da doença) do Transtorno do Espectro Autista ainda é desconhecida, embora a tendência seja considerá-la de origem multicausal associada aos fatores genéticos, neurológicos e sociais do indivíduo. Em relação ao gênero, o TEA é diagnosticado com maior frequência no sexo masculino do que no sexo feminino, com uma proporção de quatro para um.

    Segundo o DSM-V, estima-se que a prevalência (proporção ou número total de casos existentes numa determinada população) do TEA nos Estados Unidos e em outros países está por volta de 1% da população total, com estimativas similares em amostras de crianças e adultos. Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, 2020) dos Estados Unidos, indicam uma prevalência de autismo estimada de uma em cada 54 crianças. Por outro lado, no Brasil, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2017) estima que uma em cada 160 crianças apresenta o Transtorno do Espectro Autista.

    Dificuldades e preocupações cotidianas enfrentadas pela pessoa com TEA em contexto acadêmico

    Alternativa em áudio 5 - Dificuldades e preocupações cotidianas enfrentadas pela pessoa com TEA em contexto acadêmico.

    O estudante com TEA pode apresentar algumas dificuldades e se deparar com desafios práticos ao longo de sua trajetória acadêmica, tais como:

    • Organizar e planejar o tempo, que inclui tarefas, trabalhos, materiais, provas, metas e objetivos de aprendizagem;
    • Compreender e interpretar linguagens complexas, figuradas, literais e abstratas (metáforas, sarcasmos, ironias, piadas, duplos sentidos, etc.), inclusive questionamentos amplos, sem orientação específica;
    • Interpretar corretamente comportamentos não verbais, expressões faciais, emoções, intenções, linguagem corporal e entonação de voz, bem com aplicá-los à sua prática social;
    • Manter atenção e motivação constantes quando se tratam de atividades distantes dos seus temas de interesse;
    • Realizar atividades grafomotoras (grafia ilegível, maior tempo para escrever e realizar uma prova, etc.), devido às alterações na coordenação motora fina;
    • Executar várias atividades ao mesmo tempo;
      Manter contato visual;
    • Lidar com estímulos sensoriais, pois possui hipersensibilidade sensorial (luzes muito intensas, ruídos extremos, cheiros, sabores ou texturas específicas, etc.);
    • Flexibilizar suas rotinas e lidar com situações novas e inesperadas;
    • Compartilhar interesses comuns;
    • Reconhecer suas próprias habilidades e pontos fortes;
    • Ter expectativas e cobranças excessivas e irreais;
    • Saber como e quando buscar ajuda;
    • Iniciar, manter e terminar uma conversa, devido às dificuldades na interação e na comunicação;
    • Identificar assuntos apropriados ao contexto, de maneira a manter a conversa e não ser inconveniente;
    • Estabelecer e manter relações pessoais constantes;
    • Vivenciar mudanças;
    • Realizar trabalhos em grupo;
    • Apresentar oralmente e se expor diante de um público;
    • Lidar com o isolamento social;
    • Conseguir comunicar suas necessidades e preferências;
    • Lidar com a falta de apoio e suporte educacional e social para enfrentar situações novas e desconhecidas no ambiente acadêmico;
    • Lidar com preconceitos, discriminação, falta de compreensão e aceitação;
    • Julgar adequadamente a intenção do outro e se defender adequadamente;
    • Identificar as exigências do professor e as expectativas dos colegas;
    • Cumprir com suas obrigações acadêmicas no tempo adequado e apresentar êxito no desempenho acadêmico.

    Algumas dessas dificuldades e preocupações fazem parte da vida de vários outros estudantes, contudo, enquanto a maioria deles consegue se adaptar de modo razoavelmente rápido às situações e contar com uma rede de apoio (amigos, colegas, familiares, professores, coordenadores, etc.), o estudante com TEA nem sempre pode dispor desse apoio, além do fato de, muitas vezes, não possuir suporte educacional adequado às suas necessidades. Tais situações podem acarretar aumento da ansiedade, da baixa autoestima, do isolamento social, da dificuldade de aprendizagem e, consequentemente, levar ao baixo desempenho acadêmico, o que pode levar a reprovações sucessivas e até mesmo na desistência do curso.

    Potencialidades do estudante com TEA

    Alternativa em áudio 6 - Potencialidades do estudante com TEA.

    O estudante com TEA possui potencialidades? Habilidades? Quais?

    Ser estudante universitário de uma universidade pública expressa uma das potencialidades da pessoa com TEA, pois, além de ser preciso um desempenho satisfatório para ter sido classificado no vestibular, é necessário lidar com mudanças, se adaptando ao contexto universitário e a sua rotina diante da nova realidade.

    Há uma série de habilidades específicas que o estudante com TEA comumente apresenta, dentre as quais podemos destacar:

    • Facilidade no processamento visual e espacial das informações;
    • Boa memória mecânica e de longo prazo, podendo vir a desenvolver habilidades extraordinárias em áreas específicas, como na música, na matemática, na pintura, no desenho, etc.;
    • Atenção e precisão aos detalhes;
    • Intensa dedicação, motivação, concentração e foco nas atividades e/ou temas específicos do seu interesse;
    • Propensão para pensar racional e logicamente, permitindo a resolução de problemas por diferentes perspectivas e por soluções práticas;
    • Respeito e adesão às regras estabelecidas e cumprimento delas;
    • Gosto por seguir rotinas, adaptando-se com exatidão ao proposto;
    • Elevado senso de justiça, sinceridade e honestidade;
    • Amplo conhecimento e curiosidade sobre temas específicos e por entender o funcionamento das coisas;
    • Facilidade com tarefas mecânicas, precisas e repetitivas;
    • Extenso vocabulário e facilidade em aprender diferentes línguas;
    • Comportamento de escuta elevado, mostrando-se bom ouvinte.

    Mitos, estereótipos, preconceitos sobre TEA

    Alternativa em áudio 7 - Mitos, estereótipos, preconceitos sobre TEA.

    Há muitos dados e materiais circulando (pelas mídias sociais, pela internet ou por produções midiáticas) que não possuem comprovação científica, ou seja, que apresentam informações não fidedignas a respeito do TEA. Isso é perigoso, pois contribui para a ilusão e o desenvolvimento de ideias e concepções equivocadas sobre o transtorno, contribuindo para a propagação de mitos, preconceitos e estereótipos sobre esse público. Vamos desmistificar alguns conceitos juntos, uma vez que muitas compreensões e informações equivocadas são bastante comuns.

    1. O TEA tem cura?
      Não. O TEA é uma condição permanente, ou seja, a pessoa nasce com o transtorno e permanece com ele ao longo de toda a sua vida. Mas é claro que, com o auxílio de uma rede de apoio (terapias, família, amigos, educação, etc.), é possível reduzir os sintomas do transtorno, promovendo maiores possibilidades de desenvolvimento e qualidade de vida dos sujeitos.
    2. O TEA é uma doença contagiosa?
      Não. O TEA não é considerado uma doença e sim um transtorno do neurodesenvolvimento, não sendo transmitido de uma pessoa para outra! Sua origem ainda é desconhecida, porém há diversas pesquisas sendo realizadas pelo mundo afora e acredita-se em múltiplas causas: genéticas, biológicas e ambientais.
    3. Toda pessoa com TEA tem deficiência intelectual?
      Não. Pelo fato de o TEA se configurar como um “espectro”, com diferentes níveis de comprometimento, há pessoas que podem apresentar prejuízos cognitivos, bem como outras condições singulares. A literatura científica aponta que um terço das pessoas com TEA pode apresentar algum nível de deficiência intelectual.
    4. Todas as pessoas com TEA são iguais?
      Não. Como todo ser humano, cada pessoa com TEA é singular, diferente e única! Não há duas pessoas com TEA iguais. Cada pessoa com TEA tem seu jeito de ser e estar no mundo, construindo diferentes histórias de vida. Importante: como qualquer outra pessoa, esses sujeitos apreciam ser valorizados pela sua individualidade.
    5. Todas as pessoas com TEA possuem mentes brilhantes, são “gênios”?
      Não. As pessoas com TEA, assim como todas as outras, possuem habilidades e dificuldades, portanto, podem ter desempenho acima, abaixo ou na média. Contudo, algumas pessoas com TEA de nível leve ou de alto funcionamento possuem habilidades intelectuais que chamam a atenção, especialmente nas áreas de conhecimento pelas quais esses sujeitos têm interesse.
    6. As pessoas com TEA não possuem sentimentos?
      Não. As pessoas com TEA podem ter dificuldade em identificar e expressar suas emoções e sentimentos, mas isso não quer dizer que não os sentem e que não são afetados por eles. Gostam de se sentir amadas, respeitadas, aceitas e expressam seus afetos de diferentes formas (nem sempre tão convencionais). Além disso, chacotas e piadas sobre pessoas com TEA, bem como o uso de palavras de mau gosto para se referir a elas (como insensíveis, esquisitas ou frias), podem machucá-las, ferindo seus sentimentos, e levá-las a se afastarem do convívio social.
    7. As pessoas com TEA não querem ter amigos? São antissociais?
      Não. As pessoas com TEA demonstram mais dificuldade no trato social, ou seja, no estabelecimento de interações sociais, uma vez que interpretar sinais não verbais transmitidos pelo outro, ou compreender a linguagem corporal são tarefas bastante complexas para elas. Isso não significa que não tentem ter vínculos com outras pessoas ou não estejam interessadas nisso. Todavia, é mais comum, entre as pessoas com TEA, a preferência por realizar atividades sozinhas e tal comportamento deve ser respeitado.
    8. As pessoas com TEA não têm capacidade de aprender?
      Não. As pessoas com TEA possuem seu próprio tempo, ritmo e forma de aprender, desenvolvendo suas potencialidades. Todavia, podem apresentar, ao longo da vida, necessidades educacionais específicas que devem ser atendidas durante o processo de ensino, de maneira a garantir condições para uma aprendizagem mais efetiva e um melhor desenvolvimento.

    Necessidades de apoio vivenciados pelos estudantes com TEA

    Alternativa em áudio 8 - Necessidades de apoio vivenciados pelos estudantes com TEA.

    Existe a possibilidade de que a pessoa com TEA cursante da Educação Superior precise de suportes adaptados às suas necessidades específicas (CAMINHA, et al., 2016). Neste sentido, elencamos alguns recursos que visam maximizar a permanência da pessoa no ensino superior e permitir a ela finalizar os estudos:

    • Suportes atitudinais: A pessoa com TEA deve ser respeitada e suas características legitimadas. Para isso, é preciso que a comunidade acadêmica aprenda a conviver com o sujeito nesta condição e legitime seu modo de ser. Diálogos em formato de frases curtas e claras, velocidade e ritmo de fala reduzidos são sugestões para facilitar a comunicação com a pessoa com TEA. A prática do bullying, expressa por meio de zombarias, e/ou a exclusão da pessoa de grupos de colegas devem ser eliminadas.
    • Suportes informacionais: Se faz necessária a disponibilização do mapa da unidade, com telefones e itinerários de serviços da universidade. Sites com layouts simples e organizados, a partir de diagramas, facilitam a orientação e o acesso às possibilidades acadêmicas, como informações sobre atividades extracurriculares, organização estudantil, laboratórios da universidade, departamentos, oportunidades de bolsas de estudos e carreira, dentre outros dados essenciais.
    • Suporte pedagógico: Oferta de serviços e/ou suportes de atendimento especializado às demandas das pessoas com TEA, inclusive iniciativas de orientações dirigidas aos professores, que auxiliem no preparo das aulas, adequando o formato destas às condições específicas de aprendizagem desses estudantes. Serviços de orientação educacional ofertados por pedagogos e psicólogos a professores, em formato de supervisão e/ou estudo de caso, podem auxiliar os docentes a propor atividades que respeitem as características do quadro sintomatológico do estudante com TEA. Acredita-se que a figura do coordenador de curso pode ser bastante importante nesse processo, sensibilizando e orientando docentes e discentes a respeito. Porém, para isso é preciso que todos sejam informados da presença do estudante com TEA no curso, para que possa buscar suporte institucional.

    Estratégias e orientações aos professores e gestores educacionais

    Alternativa em áudio 9 - Estratégias e orientações aos professores e gestores educacionais.

    Como vimos, são várias características diferenciadas apresentadas pela pessoa com TEA. É preciso conceber que o sujeito que se enquadra no espectro não se resume a esta sua condição, uma vez que tem pensamentos, sentimentos e emoções próprias, ou seja, é um ser humano como qualquer outro e tem suas particularidades de desenvolvimento. Nesse sentido, orientamos:

    • Disponibilizar conteúdo da aula com antecedência; utilizar mapas, diagramas e esquemas conceituais que expliquem processos e procedimentos; determinar detalhadamente os critérios de avaliação e os objetivos das atividades, bem como dilatar o tempo de entrega delas (MELO, 2013); nas avaliações propostas, é preciso considerar formatos diferenciados, tempo adicional para a realização de provas e opções adaptadas de respostas (tais como prova oral, respostas diagramadas ou por esquemas, dentre outros recursos).
    • Oferecer informação clara e sistematizada, de forma gráfica ou digital, sobre o curso: grade horária, calendário escolar e oportunidades acadêmicas disponibilizadas pela universidade, como informações a respeito dos laboratórios e/ou grupos de pesquisa, atividades extracurriculares, estágios, bolsas de estudo e oportunidades de pós-graduação.
    • Durante o diálogo com o estudante, determinar os objetivos e finalidades da conversa, evitando a utilização de sentidos conotativos; buscar exemplos concretos para retratar sobre o que se fala; iniciar a conversação com base no conhecimento prévio do estudante e, a partir disso, estabelecer relações com outros conteúdos, pois isso se configura uma boa forma de motivá-lo a participar do diálogo.
    • Identificar se o discente sofre com hipo ou hipersensibilidade sensorial, pois esta condição pode intensificar sensações relativas a estímulos olfativos, visuais, auditivos e táteis, ou, por outro lado, levar a pessoa a não senti-los ou a permanecer indiferentes a eles.
    • Dentro do possível, evitar tocar no estudante; procurar controlar ruídos em sala; estabelecer rotinas de trabalho, tal como sinalizar o momento da participação numa dada atividade; buscar estar atento às relações entre os pares, para evitar possível bullying praticado com o estudante com TEA.
    • Encorajar o estudante a buscar redes de apoio que a universidade porventura ofereça, tais como monitorias, treinamentos ou profissionais que podem proporcionar suporte complementar (tais como psicólogos ou assistentes sociais).
    • Não expor a condição do estudante, suas particularidades ou dificuldades aos demais estudantes, pois isso causa constrangimento.

    Atenção docentes e servidores não-docentes: se tiverem dificuldades em atender às necessidades dos estudantes com TEA, vocês também podem requisitar auxílio da Comissão de Acessibilidade da UNESP.

    Como o estudante com TEA pode se orientar no processo de aprendizagem

    Alternativa em áudio 10 - Como o estudante com TEA pode se orientar no processo de aprendizagem.

    Considerando que este guia poderá ser lido por toda a comunidade acadêmica, inclusive pelo estudantes com TEA, deixamos nesta seção algumas orientações para este, com o intuito de auxiliá-lo em seu próprio processo educacional:

    • Caso a IES, no momento da matrícula ou da rematrícula no curso, não tenha o procedimento de autodeclaração da condição de Público Alvo da Educação Especial (PAEE), sugerimos que você relate ao coordenador de curso sua condição, pois este deverá proceder de forma ética e pensar em quais recursos e auxílios poderão ser buscados para lhe dar suporte educacional;
    • Informe o professor sobre suas necessidades específicas de aprendizagem. Isso é uma boa medida para que ele consiga repensar sua prática pedagógica;
    • Buscar em cartilhas e/ou no próprio site da universidade se existe algum Núcleo ou Comissão de Acessibilidade ou, ainda, serviço de atendimento psicopedagógico. Estes espaços têm a finalidade de garantir a inclusão do Público Alvo da Educação Especial (PAEE) de forma ética e comprometida;
    • A Lei no 12.764/2012 (BRASIL, 2012), conhecida popularmente como Lei Berenice Piana e a Lei Brasileira de Inclusão (BRASIL, 2015) apresentam conteúdos sobre a inclusão das pessoas com deficiência, TEA e Altas Habilidades/Superdotação na Educação. Sugerimos que estes documentos estejam disponibilizados para toda a comunidade acadêmica, para que possam ser apropriados e sirvam de instrumento à reivindicação dos direitos do Público Alvo da Educação Especial (PAEE).

    Estratégias e orientações aos colegas de classe e pessoas do convívio

    Alternativa em áudio 11 - Estratégias e orientações aos colegas de classe e pessoas do convívio.

    Você convive com algum amigo, parente ou colega de faculdade que tenha TEA e está com dúvidas sobre como começar ou manter um contato com ele? Se sim, aqui vão algumas orientações para você:

    • Antes de qualquer coisa, compreenda a condição do TEA enquanto parte da pessoa e, portanto, não faça julgamentos: a condição do autismo faz parte da individualidade do sujeito. Aceite esse aspecto indissociável do que torna a pessoa única;
    • Enxergue a pessoa com TEA como ela é, ou seja, como alguém com desejos, sonhos, dificuldades, direitos e deveres assim como você;
    • Procure respeitar o espaço da pessoa, de acordo com a proximidade e com o vínculo que mantém com ela;
    • As dificuldades que a pessoa pode apresentar na interação e na comunicação não impedem que ela mantenha interações sociais, por isso, quando houver necessidade, a ajude a se inserir em grupos, ou, ainda, inicie uma conversa com algum assunto do interesse dela;
    • Não faça surpresas e procure escolher rotinas previsíveis;
    • Saiba compreender os limites da pessoa com TEA: não exija contato visual, continue conversando mesmo que ela não pareça estar prestando atenção ao que você diz ou não olhe você nos olhos;
    • Seja claro e objetivo ao falar e fazer perguntas, pois a maioria das pessoas com TEA têm dificuldade em entender expressões com sentido figurado, como piadas e trocadilhos, por exemplo;
    • Comportamentos aparentemente agressivos dirigidas as pessoas de seu convívio são, geralmente, o modo que a pessoa com TEA encontra para lidar com determinada situação. Por isso, não atribua apressadamente a esses comportamentos características hostis ou mal-intencionadas por parte da pessoa com TEA.

    Quem procurar quando precisar de ajuda na Universidade

    Alternativa em áudio 12 - Quem procurar quando precisar de ajuda na Universidade.

    Estou com dificuldades na minha trajetória acadêmica. E agora? O que eu faço? Onde posso buscar ajuda?

    Caso você seja um estudante com TEA e se encontre com dificuldades acadêmicas, busque entrar em contato com o(a) coordenador(a) de seu curso de graduação ou programa de pós-graduação e exponha suas dificuldades.

    Você também pode buscar a Comissão de Acessibilidade da Unesp do seu campus, pois ela também pode auxiliá-lo(a) nesse processo.

    Caso você não se sinta à vontade com nenhuma dessas opções, pode buscar apoio e/ou orientação de um professor(a) ou de um(a) colega próximo(a) e, juntos, vocês solicitam o auxílio da universidade para enfrentar essas dificuldades.

    Algumas unidades da Unesp possuem diferentes serviços que podem ajudá-los em diversas situações. São eles:

    Matrícula de estudantes com TEA no Ensino Superior Brasileiro

    Alternativa em áudio 13 - Matrícula de estudantes com TEA no Ensino Superior Brasileiro.

    Nota-se um aumento gradativo das matrículas do Público Alvo da Educação Especial (PAEE) na Educação Superior. Considera-se PAEE pessoas com deficiência intelectual (DI), deficiência física (DF), deficiência visual (DV), deficiência auditiva (DA), deficiência múltipla (DM), transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades/superdotação (AH/SD). No ano de 2003, havia 5.078 matriculados; em 2011, esse número foi ampliado para 23.250; em 2013, novamente subiu para aproximadamente 30 mil; em 2016, chegou-se a 35.891. No ano de 2017, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2019), havia 38.272 matrículas; no último censo, realizado em 2018, ocorreu um aumento para 43.633 alunos matriculados.

    Especificamente, o número de pessoas consideradas com TEA matriculadas na Educação Superior brasileira (modalidade presencial ou à distância) também acompanha essa tendência: em 2012, havia um total 186; em 2017, chegou-se a 754, número que saltou para 1.122, em 2018, um aumento de 503% em seis anos (2012 – 2018).

    Ingresso no mercado de trabalho

    Alternativa em áudio 14 - Ingresso no mercado de trabalho.

    A inserção da pessoa com TEA no mercado de trabalho é uma temática complexa. Para a sua análise, faz-se necessário considerar diversos aspectos, a começar pelo histórico do sujeito. O diagnóstico precoce, logo na primeira infância, permite o encaminhamento aos serviços educacionais e psicológicos especializados que garantem especial atenção às necessidades da pessoa com TEA. Quando não ocorre esse apoio, funções cognitivas podem não ser estimuladas, acarretando as dificuldades de aprendizagem já mencionadas neste guia, as quais poderão afetar todo o desenvolvimento educacional do estudante com TEA.

    Quando pensamos a inclusão desse sujeito no mercado de trabalho, precisamos considerar em qual área ele pretende se inserir. Algumas vezes, a escolha é correspondente aos padrões restritos de interesse da pessoa com TEA, por isso, seu repertório já contempla e tem aprimoradas as habilidades exigidas pela vaga almejada. Outra possibilidade é a escolha de um posto de trabalho que não demande da pessoa com TEA ações que estejam comprometidas pelo quadro sintomatológico. Por exemplo: se ela tem dificuldades de interação social, poderá escolher áreas como a da Computação, a qual permite que o profissional realize seu trabalho sem necessariamente interagir a toda hora com outrem; poderá também optar por cargos emb que o trabalho seja desempenhado individualmente.

    Estudos sobre a inclusão do sujeito com TEA no mercado de trabalho brasileiro ainda são poucos, contudo, é possível elencar uma série de desafios para este profissional:

    • Locomoção e transporte: é comum que a pessoa com TEA tenha dificuldades em utilizar serviços de transporte público para chegar até o local de trabalho. Exemplo dessa dificuldade é o contato social com outras pessoas, principalmente o físico, o qual pode ser muito desgastante, sem falar no fato do transporte público poder ser bastante adverso para quem tem hipersensibilidade sensorial, uma vez que se trata de ambiente com muitos estímulos sonoros, táteis, visuais e olfativos…
    • No trabalho, pressões quanto aos prazos e ao cumprimento de ordens podem causar dissonância cognitiva no sujeito com TEA. Além disso, as pessoas que convivem no mesmo espaço podem não compreender os rituais comportamentais apresentados para a execução de determinada tarefa ou até mesmo seus movimentos estereotipados (os quais servem para regular a própria ansiedade), o que pode gerar conflitos nas interações sociais.
    • Muitas vezes, a falta de confiança para executar certas tarefas pode funcionar como gatilho para a ansiedade em pessoas com TEA. Soma-se a isso o comprometimento socio-comunicacional e tem-se um quadro em que a pessoa pode ter dificuldades de solicitar ajuda, podendo interromper a execução da tarefa ou até mesmo deixar o local de trabalho.

    Uma das formas de amenizar as dificuldades no ambiente de trabalho é ofertar suporte adequado neste espaço (treinamento e adequação ambiental), de forma a permitir a melhora no desempenho profissional e na qualidade de vida da pessoa com TEA. Nessa direção, sugere-se:

    • Utilizar locais que facilitem o acesso aos itens do trabalho, assim como minimizar distrações visuais e ruídos;
    • Operar em locais com pouca luminosidade;
    • Permitir o uso de fones de ouvido;
    • Realizar descrição clara, minuciosa e com antecedência das tarefas, deveres, responsabilidades, expectativas e normas da empresa;
    • Ofertar suporte de mentores (orientador profissional) e/ou conselheiros (colega de trabalho que ajudará no processo de adaptação à função);
    • Organizar atividades e programas que visem à criação de grupos de suporte e discussão voltados ao trabalhador com TEA no espaço laboral;
    • Realizar campanhas de conscientização e treinamentos com vistas a esclarecer sobre o TEA e reduzir o preconceito e as barreiras à inclusão dos sujeitos no ambiente de trabalho;
      Oferecer apoio e incentivo dos gestores no espaço laboral;
    • Incentivar o respeito e o vínculo de companheirismo entre os trabalhadores;
    • Certificar que o sujeito se sinta pertencente ao grupo de trabalho e confortável para desempenhar suas funções.

    Ressalta-se ainda que o incentivo, a adoção e a criação de políticas públicas de inclusão de pessoas com TEA no mercado de trabalho são ferramentas que viabilizam e estimulam a construção de uma cultura inclusiva e de suportes adequados às pessoas com TEA no ambiente laboral, contribuindo com a preparação para a atuação profissional, o incentivo à contratação, o ajuste no ambiente laboral, o acompanhamento do processo de inclusão, o fomento à produção científica e o desenvolvimento de informações precisas sobre o tema (LEOPOLDINO, 2017; 2015).

    Outras informações e curiosidades

    Alternativa em áudio 15 - Outras informações e curiosidades.

    As informações sobre o TEA são muito abrangentes e não se esgotam neste guia, mas trouxemos algumas curiosidades sobre o tema para vocês!

    Você sabia que o dia 02 de abril é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo? A data foi oficializada em 2007, pela Organiza ção das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de conscientizar e sensibilizar a população mundial sobre o tema, com o intuito de desconstruir mitos e estereótipos relacionados às pessoas com TEA e favorecer a objetivação de seus direitos e deveres fundamentais. Escolheu-se a cor azul para simbolizar o transtorno, visto que a maior incidência de casos é sobre o sexo masculino, e a fita em quebra-cabeça com diferentes cores para representar a complexidade do transtorno e a diversidade de pessoas e famílias que convivem com ele. No Brasil, a data de celebração foi instituída pela Lei no 13.652, de 13 de abril de 2018, sendo que, na data e por todo o mês de abril, ocorrem eventos, palestras, reuniões, debates e a iluminação, com a cor azul, de prédios e monumentos históricos.

    Você sabia que há uma Carteira de Identificação da Pessoa com TEA? A Carteira de Identificação da pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA) foi sancionada pela Lei no 13.977/2020 (igualmente conhecida como Lei Romeo Mion), que alterou a Lei no 12.764/2012 e visa garantir atenção integral, pronto atendimento e prioridade às pessoas com TEA no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

    Você sabia que produções midiáticas podem auxiliar a compreender melhor o TEA? Apesar de a pessoa com TEA enfrentar desafios quanto à possibilidade da hipo ou da hipersensibilidade aos estímulos presentes em seu contexto, ela vivencia sentimentos e emoções, mesmo que sua forma de atribuir sentido às relações possa ser diferente da de uma pessoa que não se enquadra no espectro. Esta e outras questões são bem abordadas em produções como o longa-metragem “Molly – experimentando a vida”, dirigido por John Duigan, ou o documentário “O Cérebro de Hugo”, dirigido por Sophie Rèvil e baseado em fatos, com vários depoimentos, em forma de narrativas, sobre ser autista.

    Sites de interesse

    Alternativa em áudio 16 - Sites de interesse.

    Ficou interessado pelo TEA? Quer saber mais sobre esse tema? Seguem os endereços de alguns sites nacionais e internacionais para aprofundar seu conhecimento e se manter atualizado no assunto:

    Legislação

    Alternativa em áudio 17 - Legislação.

    Apresentamos, para consulta, algumas das principais leis nacionais que representam o avanço na luta pelos direitos das pessoas com TEA:

    • Lei No 12.764, de 27 de dezembro de 2012: Regulamentada pelo Decreto no 8.368, de 2 de dezembro de 2014. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista – Conhecida como Lei Berenice Piana, além de indicar, para todos efeitos legais, que a pessoa com TEA passa a ser considerada pessoa com deficiência na país. Propõem diretrizes para a maior participação social da pessoa com TEA, orientando o diagnóstico precoce, tratamentos especializados, medicamentos disponibilizados pelo SUS, acesso à educação e à proteção social e ao trabalho, entre outros direitos que visam a igualdade de oportunidades.
    • Lei No 13.146, de 06 de julho de 2015: Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Normativa que assegura e promove os direitos e liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, em condições de igualdade, objetivando a sua inclusão social e o reconhecimento da cidadania.

    Referências

    Alternativa em áudio 18 - Referências.
    AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.

    AUTISM SPEAKS. CDC estimate on autism prevalence increases by nearly 10 percent, to 1 in 54 children in the U.S. Autism Speaks, New York, 2020. Acesso em: 25 jun. 2020.

    CAMINHA et al. Autismo: vivências e caminho. São Paulo: Blucher, 2016. Acesso em: 03 jun. 2020.

    LEOPOLDINO, C. B. Inclusão de autistas no mercado de trabalho: Uma nova questão de pesquisa para os brasileiros. Gestão e Sociedade, v. 9, n. 22, p. 853-868, 2015.

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    Créditos

    Alternativa em áudio 19 - Créditos.
    • *Autores:
      • Ana Gabriela Olivati
      • Ana Paula Camilo Ciantelli
      • Jose Tadeu Acuna
      • Lúcia Pereira Leite
      • Tamires Paes de Oliveira
    • Design:
      • Ana Beatriz R. Ribeiro
      • Erick de Alencar

    *Observação: Os autores integram o Grupo de estudos e pesquisa em Deficiência e Inclusão (GEPDI), vinculado ao Curso de Psicologia e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, Faculdade de Ciências, Unesp – Bauru.