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Ser mulher e a celebração em ser!

    Fabíola Manhas Verbi Pereira (UNESP)

    Desde a infância, sempre moleca, jogando bola com os meninos, andando de bicicleta, joelho ralado, nadando…o que nunca prestei atenção certamente foi: ah! isso é para menino… devo ter ouvido isso milhares de vezes, mas nunca compreendi. Ainda bem, e me sinto dessa forma até hoje.

    Meus pais foram sempre incentivadores dos meus estudos e dos meus irmãos, e nunca diferenciaram se um irmão sendo homem iria estudar mais do que outro sendo mulher. Isso foi um diferencial enorme na minha vida, mas quantas mulheres tiveram esta chance? Raras podem declarar isto.

    A procedência da minha família é muito modesta, em termos educacionais e culturais: minha mãe teve acesso apenas ao ensino fundamental e meu pai era um imigrante italiano muito persistente e engajado em construir um “universo” diferente daquele, de onde foi necessário fugir e abandonar. O aprendizado familiar mais importante, além da formação do caráter sempre direcionada para aspectos positivos, foi o estímulo dos meus pais à minha característica de atitude investigativa. Isto foi indubitavelmente realizado com os vários kits de laboratório químico que ganhei e os inúmeros brinquedos que pertenciam ao meu irmão que desmontei e desfigurei, para descobrir o que havia por detrás de suas peculiaridades.

    Sempre imaginei que iria atuar profissionalmente, distante da rotina e do lugar comum. E na minha opinião, eu tenho a melhor profissão do mundo que é ser professora universitária. Tenho a oportunidade de conhecer muitas pessoas e lugares por meio do ensino e atividades referentes à carreira profissional.

    Ser mulher, para mim, não é ser o sexo frágil. É justamente o oposto. Todos os meses sangramos porque é a nossa natureza e isso não nos enfraquece. Uma mulher tem sensibilidade e inteligência emocional para compreender, unir e pacificar os momentos, sejam os familiares ou profissionais.

    Nós, mulheres, não precisamos competir e concorrer com ninguém. O que precisamos é ter o mesmo olhar da competência, da qualidade e da contribuição para a sociedade. Todos temos um papel atuante, independente do gênero.

    As barreiras de gênero ainda existem em todos os meios sociais e culturais. O reconhecimento e o nivelamento não-subjetivos são fundamentais, porque afinal é saudável que tenhamos nosso diferencial e individualidade. Nós mulheres não somos enfeites e não nascemos para ter uma atuação predestinada e sem opções profissionais ou de vida.

    Somos todos seres humanos e devemos perceber que com a igualdade e diversidade de tudo (gênero, cor, nacionalidade, religião…) o mundo se fortalecerá!

    As celebrações incluindo esta “Mural de Relatos – 31 dias, 31 mulheres”, dentre tantas outras maravilhosas, atraem as pessoas e promovem reflexões por algo que parece óbvio, mas lamentavelmente existe: a diferença entre os gêneros. Imaginem se eu e todas as minhas colegas tivessem dado força para: ah! isso é para menino…

    Temos contribuído e continuaremos, a sociedade precisa de nós e de todos, para ser igualitária e forte, e assim, conseguirmos alcançar um mundo integrado, saudável e harmonioso.

    A autora

    Professora Assistente Doutora, desde 2013, no Instituto de Química da Unesp – campus Araraquara. Possui bacharelado em química pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) obtido em 1999, mestrado em química na área de química analítica (2003), doutorado em ciências (2007), ambos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Entre 2017 e 2018 realizou um estágio de pós-doutorado na Idaho State University (ISU). Tem experiência na área de química, com ênfase em química analítica, atuando principalmente nos seguintes 

    temas: aplicações de quimiometria, métodos não-destrutivos de análise, técnicas espectroanalíticas e imagens. É líder do Grupo de Abordagens Analíticas Alternativas (GAAA).